O ARTESANATO

O ARTESANATO

A CULTURA de um povo, um contexto complexo de crenças, comportamentos sociais, valores, manifestações artísticas, em Santarém materializada nas músicas, na culinária, nas evoluções dos botos Tucuxi e Cor de Rosa, tem reconhecimento também, agora oficialmente, através das cuias pintadas e nos artefatos da cerâmica tapajônica, obras de artistas anônimos, porém não menos valiosas, sedimentando e fortalecendo a identidade do povo desta região.

A cerâmica tapajônica, da região dos entrerios Tapajós-Madeira e Tapajós-Xingu, centrada em Santarém e atingindo também a bacia hidrográfica do rio Trombetas, é muito elaborada, complexa, com utensílios domésticos, cerimoniais, ornamentais, espirituais e funerários. Datada criteriosamente, é a mais antiga das Américas, cerca de 3.000 anos mais antiga que a cerâmica Marajoara, embora esta seja mais conhecida.

A CERÂMICA=  Em Santarém encontra-se a cerâmica tapajônica que é reconhecida como patrimônio cultural e artístico paraense desde 16 de outubro de 2009, esta arte apresenta representações de humanos ou animais em relevo. Outra característica é o realismo das representações, que está dividida em dois tipos de vasos: o de gargalo e o de cariátides e ainda outras estatuetas.

Vasos de Gargalo: Apresentam um corpo central (gargalo) e abas, ou asas laterais constituídas de animais (cabeças de aves ou jacarés) e sobre os quais estão assentados outros animais.

Os vasos de cariátides: São pequenos vasos simétricos, em forma de taça, com parte superior ligada à inferior por três cariátides antropomorfas, nas bordas da parte superior estão afixadas outras figurações.

As estatuetas: Apresentam grandes variedades de formas antropomorfas ou zoomorfas, predominando as primeiras e diferentes modos de confecção. Podem ser ocas, maciças, ou com partes ocas e partes maciças. Os personagens estão nus e são, na maioria das vezes, do sexo masculino.

Esta cerâmica é uma das mais antigas e, de tão perfeita, chega a ser comparada até mesmo com a mais fina porcelana chinesa. Existem peças da cerâmica Tapajós espalhadas por vários museus do mundo. Na cidade de Santarém encontra-se um pequeno acervo dessas peças no Centro Cultural João Fona, algumas peças podem ser vistas também no Museu de Atropologia e Etnologia da Universidade de São Paulo.

O ARTESANATO típico de Santarém é um dos ícones da identidade cultural do Pará, as cuias pintadas de Santarém passaram do anonimato a patrimônio cultural do Pará. Bonitas e coloridas, são feitas geralmente por mulheres. A participação dos homens acontece principalmente no processo de retirada do miolo do fruto.

Como toda cultura tem seu berço, o das cuias pintadas é a comunidade de Aritapera, situada às margens do rio Amazonas, em Santarém, Oeste do Pará. É na comunidade que, pelas mãos habilidosas de um grupo de mulheres, nascem peças do artesanato, nacionalmente conhecido como “cuias pintadas”.

Velha conhecida dos índios amazônicos que a utilizam para beber água, tomar banho no rio e até como prato, a cuia, fruto da cuieira (Crescentia cujete) ou Kuimbúka em Tupi, significa cabaça ou concha de tirar água do pote. É da casca desse fruto que há séculos índios e caboclos de Santarém fazem nascer o que hoje se conhece como artesanato das cuias pintadas. Atualmente, além da função utilitária, as cuias têm papel decorativo, tanto no Brasil quanto no exterior.

As cuias recebem decorações gravadas, pintadas ou incisas, com formas que remetem às culturas indígenas presentes em toda a região amazônica.

A PALHA = Coletar, secar, trançar e tingir é uma das tradições mais antigas da Amazônia. Construir objetos com palha é um artesanato que já faz parte da cultura dentro da nossa região. Os artesãos e artesãs das comunidades de Urucureá, Vila Amazonas, Arimum, Vila Brasil e São Miguel usam como matéria-prima dos trançados as fibras vegetais de espécies como guarumã (Ischinosiphon Koern), o miriti (Mauritia flexuosa) e o tucumã (Astrocaryum vulgare Mart).

Estas espécies sempre fizeram parte da cultura das diversas tribos indígenas que habitam a região. Especificamente na região do rio Arapiuns, as comunidades utilizam as fibras de tucumã como matéria-prima para a produção dos trançados.

O trançado de palha é muito utilizado no artesanato popular de Santarém, com ele são fabricados objetos como cestarias, chapéus, sacolas entre outros artigos típicos da região. Utiliza-se pigmentos naturais como o Jenipapo que origina o roxo, o Crajiru o marron e a mangarataia o amarelo, para o tingimento da palha.

Em Alter-do-chão ainda é possível encontrar estes produtos, mas ao longo do tempo a vila tem perdido este tesouro artístico e cultural.

O OURIÇO = Casca onde se acomodam as amendoas da Castanha da Amazônia (do Pará ou até do Brasil), Bertholletia excelsa. A coleta da castanha faz parte da tradição dos quilombola. A lida com a castanha teve início quando os escravos fugitivos constituíram seus quilombos nas matas do rio Trombetas e seus afluentes. Ao fugir os negros tiveram que aprender a extrair da floresta sua sobrevivência. Este artesanato é praticado pelas mulheres quilombolas. Para manter a originalidade da matéria-prima e a proposta ecológica, as peças são impermeabilizadas com um composto de óleo de copaíba (Copaifera langsdorfii) e mel silvestre, também conhecido como verniz ecológico ou ecoverniz.

A pigmentação interior de algumas peças como a tigela é manual. Mistura-se os pigmentos de urucu (Bixa orellana) e açafrão-da-terra (Curcuma longa) com a própria castanha passando a massa no interior das peças tal como os Povos Indígenas pigmentam seus corpos e utensílios.

Em setembro de 2005, o artesanato do quilombo foi um dos vencedores do prêmio Planeta Casa na categoria Ação Social, promovido pela revista Cláudia.

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