AS LENDAS

AS LENDAS

As lendas, de uma forma ou de outra, contribuem em muito na formação de um povo, sua cultura e sua vida social. Os povos da Amazônia vivem sua rica cultura no seu dia a dia, bem como em suas celebrações.

Na vila de Alter do chão, o Festival Borarí (em julho) e o Sairé (em Setembro) são dois exemplos dos aspectos culturais manifestados festivamente e com todo o esplendor, magia e imaginação extraídas das maravilhosas lendas que cercam esta cultura.

Vamos neste artigo nos ater às Lendas, deixando as festividades para um próximo encontro, pois não há pouco o que se falar e mostrar sobre ambas.

Das diversas lendas passadas de uma geração para a outra, na região como um todo, as principais são:

O BOTO, mito Amazônico do Delfim maior do rio, que seduz as moças ribeirinhas. É encantado e nas primeiras horas da noite (há quem diga à meia-noite) se transforma em gente. Anda em cima dos paus das beiradas, de preferência sobre os buritizeiros tombados nas margens. Veste sempre roupa branca e aparece nas festas onde procura dançar com as moças mais jovens e mais bonitas. Sai com as mesmas para passear e estas ficam sempre grávidas, razão porque é tido por pai das crianças de paternidade desconhecida, havendo mesmo o depoimento sincero das mães que o apontam como responsável. Antes da madrugada pula na água e volta à forma primitiva. O boto-homem tem um orifício no alto da cabeça, razão porque aparece de chapéu, ocultando, além de um forte cheiro de peixe, hálito de maresia. Sedutor e fecundador obcecado, o boto sente o odor feminino a grandes distâncias, virando as canoas em que viajam mulheres que “não estejam conformes” (menstruadas), pois o boto não gosta. Isto ocorre sempre à noite, e para evitar o boto, esfrega-se alho na canoa, nas portas e nos lugares que ele gosta de parar.

O CURUPIRA normalmente, ele aparece do tamanho de uma criança de seis a sete anos. Toma conta da mata e dos animais que nela vivem. Anda nú e mora nos buracos das árvores portadoras de sapopemas (raízes gigantescas muito comum nas árvores da floresta amazônica). Anda a pé e é peludo como preguiça real. As unhas são compridas, o calcanhar para a frente e os joelhos para trás. O primeiro encontro com essa entidade é assim realizado: se alguém não consegue caça, peixe e sua roça nada produz e deseja fazer contrato com o Curupira, vai para a mata e bate em qualquer sapopema com dois paus roliços como se fossem cacetes. Esse ato é realizado por três vezes, sendo que na última o indivíduo deve deixar cachaça. Ele aparece sob a forma de criança e bebe toda a cachaça, ficando totalmente embriagado. O futuro contratante deve então dirigir-se para casa se ele não lhe diz nada. Se o faz, no dia seguinte a pessoa deve levar tabaco, fósforos e cachaça, para realizar o contrato. Nesse momento a pessoa faz o pedido e diz o que vai dar em troca. Aceito o trato, ele desaparece levando os ofertórios entregues e só aparece no dia aprazado para receber as oferendas.

A VITÓRIA RÉGIA contam que, certa vez uma linda cunhã, levada pelo amor, querendo transformar-se em estrela pelo contato selênico, procurou as grandes elevações na esperança de ver seu sonho realizado.

A linda jovem querendo tocar na lua, que se banhava no lago, lançou-se às águas misteriosas, desaparecendo em seguida. Iaci, a lua, num instante de reflexão apiedou-se dela, que era tão bonita e encantadora, e, como régio prêmio a sua beleza, resolveu imortalizá-la na terra, por ser impossível levá-la consigo para o reino astral, e transformou-a em vitória-régia (estrela das águas), com perfume inconfundível.

Depois, dilatando tão justo prêmio, estirou-lhe, o quanto pôde, a palma das folhas, para maior receptáculo de sua luz.

A MATINTAPERERA é uma velha vestida de preto, com longa saia. Na hora do encanto, começa a virar carambolas com uma lamparina acesa na cabeça. A chama dessa lamparina mantém-se acesa até que a velha transforme-se em duende. Assombra as pessoas, dando-lhes violentas dores de cabeça, quebradeira geral do corpo, etc… Quando ela está rondando uma casa (sabe-se pelo assovio do pássaro que a acompanha e que lhe tem o mesmo nome), se quiser prendê-la, espeta-se uma agulha virgem num cinto de couro e proferem-se pequenas orações. A Matinta prende-se por ela mesma. No período daquela noite, não mais prossegue a viagem — fica rondando a casa assoviando, até o dia amanhecer.

A COBRA GRANDE conta a lenda que em numa tribo indígena da Amazônia, uma índia, grávida da Boiúna (Cobra-grande, Sucuri), deu à luz a duas crianças gêmeas que na verdade eram Cobras. Um menino, que recebeu o nome de Honorato ou Nonato, e uma menina, chamada de Maria. Para ficar livre dos filhos, a mãe jogou as duas crianças no rio. Lá no rio eles, como Cobras, se criaram. Honorato era Bom, mas sua irmã era muito perversa. Prejudicava os outros animais e também às pessoas.

O MUIRAQUITàpedra verde que, segundo a crença popular, é um amuleto que foi fabricado pelas Icamiabas ou Amazonas.

Conta a lenda, que antes do dia do casamento, as Icamiabas ou Amazonas faziam a festa de Iaci, no lago a que davam o nome de Iacinará.

 

Pouco antes da meia-noite, quando a lua estava quase a pino, dirigiam-se em procissão para o lago, levando aos ombros potes cheios de perfumes, que derramavam na água para purificá-la. Dançavam, cantavam e se atiravam ao lago para o banho purificador.

À meia-noite mergulhavam e traziam lá do fundo um barro verde a que davam formas variadas: de rã, peixe, tartaruga e outros. Elas davam esses amuletos aos guacaris que os traziam dependurados ao pescoço, enfiados numa trança de cabelo das noivas.

Depois de secos, os Muiraquitãs ficam duros como ferro.

“Mãe das Pedras Verdes” é que lhes dava o barro no fundo do lago e foi quem lhes ensinou a fabricar os amuletos.

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